quinta-feira, 5 de maio de 2011

Teodoro Sampaio: Primeiro Negro Geólogo-Geógrafo!



Teodoro Sampaio viveu e trabalhou em São Paulo (1886-1903), participou da fundação da Escola Politécnica e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, dirigiu os trabalhos de abastecimento e saneamento do estado e, antes desses fatos, na condição de “primeiro-ajudante” do geólogo Orville Derby (diretor da Comissão Geográfica do Estado de São Paulo), foi responsável pela primeira expedição de exploração dos rios Itapetininga e Paranapanema. Filho de uma mãe escrava (Domingas da Paixão) e um padre (Manoel Fernandes Sampaio), que, nascido em 7 de Janeiro de 1855, sob o teto de uma capela no engenho Canabrava, no então Recôncavo de Santo Amaro, dali sairia aos nove anos, levado pelo pai, para estudar e se formar engenheiro em 1877, pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, vindo posteriormente a comprar as cartas de alforria de pelo menos dois dos seus irmãos, e a intermediar a libertação de um terceiro, que viviam na condição de escravos nas plantações de cana-de-açúcar da terra onde nasceram.
Publicou, na Revista de Engenharia, do artigo “A respeito dos caracteres geológicos do território compreendido entre a cidade de Alagoinhas e a do Juazeiro pelo trajeto da linha de ferro em construção”. O trabalho foi escrito a pedido do geólogo Orville Derby, que o comenta e considera interessantíssimo. Também para Orville Derby seriam escritas, no mesmo ano de 1884, as Notas sobre a geologia da região compreendida entre o rio S. Francisco e a Serra Geral (do Espinhaço) nas imediações da cidade do Juazeiro. Ainda sobre a natureza da região em que trabalhara como engenheiro, e atendendo à solicitação do geólogo John Casper Branner, Teodoro Sampaio escreveu as notas As rochas arqueanas na Bahia, consideradas “muito interessantes e muito satisfatórias”. Branner incluiu outros seis trabalhos de Teodoro na “Bibliography of the geology, mineralogy and paleontology of Brazil” e, posteriormente, no Resumo da geologia no Brasil, para acompanhar o mapa geológico do Brasil, afirmou que o mapa geológico publicado no “Atlas dos Estados Unidos do Brasil pelo engenheiro Teodoro Sampaio”, em 1911, era um dos melhores mapas geológicos do país. Além disso, na parte referente à Bahia, Branner utilizou como uma de suas bases os mapas de Teodoro e as notas sobre geologia que este tomara durante a viagem que fez como engenheiro da Comissão Milnor Roberts.
Em 1886, Teodoro fora convidado por Orville Derby para ocupar o cargo de primeiro-engenheiro da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, que seria criada naquele ano e teria o geólogo como seu primeiro diretor. Esse convite resultaria na fixação de Teodoro no estado de São Paulo por quase vinte anos. Em São Paulo ele consolidaria a sua carreira profissional e se veria envolvido diretamente nos sucessos daquele período particularmente importante de crescimento, ampliava seu peso econômico e político e implementava o seu próprio modernizador.
Parte de um quadro maior de ampliação dos espaços institucionais de importância para a prática científica no Brasil, em São Paulo, nas duas últimas décadas do século XIX e no início do século XX, foram criadas várias instituições ligadas às atividades científicas, das quais são exemplo: a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo (1886), o Instituto Agronômico da Campinas (1887), o Instituto Bacteriológico de São Paulo (1892), a Escola Politécnica de São Paulo (1893), o Museu Paulista (1894) e o Instituto Butantã (1901). Para fazer funcionar essas instituições era necessário contratar profissionais e, nesse período, vieram para São Paulo geólogos, como Orville Derby, Francisco de Paula Oliveira, Gonzaga de Campos e Eugênio Hussak; químicos, como W. F. Dafert; engenheiros , como Teodoro Sampaio e Euclides da Cunha; botânicos, como Alberto Loefgren; zoólogos, como Hermann Von Ihering; médicos, como Adolfo Lutz e Vital Brasil etc.
A capital refletia bem as mudanças pelas quais passava o estado de São Paulo. Richard Morse considera que as décadas de 1880 e 1890 viram São Paulo perder a aparência colonial e tornar-se uma cidade completa. No país, a cidade passara do décimo para o segundo lugar em tamanho. O número de habitantes saltara de 44.030 em 1886 para 192. 409 em 1893. A partir de 1898 até o seu pedido de demissão, em 1903, foi engenheiro-chefe da Repartição de Águas e Esgotos de São Paulo. Juntamente com Sales Oliveira e coronel Jardim, Teodoro integrou a comissão encarregada da elaboração do regulamento da fundação da Escola Politécnica de São Paulo. Segundo se depreende de uma carta de Reinaldo Porchat para Euclides da Cunha, em 1893 Teodoro chegou a ser dado como nomeado para assumir uma cadeira da Escola Politécnica de São Paulo, mas isso não chegou a se concretizar.
Também esteve entre os fundadores e ocupou lugar de destaque no IHGSP, tendo sido, inclusive, um dos três sócios que apresentaram o nome de Euclides da Cunha para o sócio do instituto (os outros o geólogo Orville Derby e o botânico Alberto Loefgren). O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo foi criado em 1894, seguindo basicamente o modelo adotado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro no que diz respeito à ênfase num conhecimento patriótico e cívico da nação, mas diferenciando-se deste ao destacar uma suposta especificidade paulista, o que explicaria a afirmação: “A história de São Paulo é a própria história do Brasil”.
O conhecimento de Teodoro sobre os sertões baianos seria a base que o levaria a exercer influência sobre as leituras científicas de Euclides da Cunha, que foi reconhecida por autores como Capistrano de Abreu, Gilberto Freyre, Sylvio Rabello, Olímpio de Souza Andrade e Nelson Werneck Sodré.
Quando aconteceu o desastre da Expedição Moreira César, em 1897, durante a Guerra de Canudos, Euclides da Cunha participou de uma conversa sobre a questão, na casa de Teodoro Sampaio, e teria levado deste algumas notas sobre as terras do sertão baiano. Um mapa de autoria de Teodoro, “Trecho da carta da Bahia”, então inédito, foi fornecido a Euclides da Cunha quando, em 1897, este escreveu o seu primeiro artigo (“A nossa Vendéia”) sobre a Guerra de Canudos. A autorização para que Euclides da Cunha fizesse a cópia do mapa foi dada com a condição de que ele não fosse divulgado, o que não se cumpriu, gerando a convocação de Teodoro para uma conferência com Campos Sales, governador de São Paulo. Por se tratar de mapa de uma região ainda pouco conhecida, onde o exército já sofrera sucessivas derrotas, o governador fez mais de uma cópia e as enviou para o Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro.
Teodoro Sampaio faleceu na ilha de Paquetá (RJ), no dia 15 de outubro de 1937, aos 82 anos. Construindo uma trajetória profissional e intelectual que foi a grande impulsionadora de sua ascensão social. O livro O rio São Francisco e a Chapada Diamantina baseia-se no texto publicado pelo IHGB, valorizando pelo prefácio de Teodoro Sampaio.

Referência Bibliográfica:
SAMPAIO, Teodoro. O rio São Francisco e a Chapada Diamantina. [org.] José Carlos Barreto de Santana – São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

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