domingo, 5 de fevereiro de 2012

Euclides da Cunha: o naturalista





Sugerimos refletir aqui algumas das idéias do intelectual Euclides da Cunha referentes ao projeto de nacionalidade. O livro principal é “Os Sertões”, e a abordagem focaliza a busca de uma divulgação científica e o seu posicionamento intelectual em defesa da nação, presente em seus textos e em sua época. E através da relação da obra principal com o autor que dá a ideia que fazemos acerca da brasilidade (explicar o que vc quer dizer com a ideia de brasilidade).
A multiplicidade de idéias, oriundas da Europa, começou a nortear o pensamento de intelectuais brasileiros a partir de 1870, isto é: evolucionismo, determinismo climático e biológico, e de uma forma mais geral, o positivismo. Originando novas possibilidades interpretativas da formação histórica do País. O conceito de sertão era visto como território da barbárie simbolizava o atraso, a doença e o primitivo. Desqualificando a terra e a população a ela relacionada, reconhecendo neles a impossibilidade de qualquer desenvolvimento rumo à civilização, compreendendo, portanto da forma mais pejorativa.
            Mesmo assumindo na época que sertão e nação tinham significados conflitantes entre si, Euclides compartilhava as polêmicas em torno da “gênese das raças mestiças do Brasil” que era um problema, por que o Brasil não se modernizava por causa da população que era composta por mestiços provenientes do cruzamento de três raças: brancos, negros e índios. (SANTOS, 2008, pág. 127). O escritor afirma que o Brasil era considerado um país atrasado e doente por causa da miscigenação racial. 
A classificação das raças consistia na verificação das diferentes condições de indivíduos ou grupos, julgamento este que tinha por critério a comparação entre os mesmos. Ou seja: através de comparações, poder-se-ia estabelecer quem tem maiores ou menores condições para isto ou para aquilo. (Bastos de Ávila, 1940, pág. 9).
Acreditar que o brasileiro mestiço era responsável pelos problemas que o Brasil enfrentava poderia ser considerado racismo e foi isso que condenou o Euclides. E acreditamos que ele esteja profundamente mergulhado nos pressupostos e preconceitos advindos do credo cientificista. Mapear os intelectuais que planejaram o território brasileiro não é somente contar o passado e as suas produções acadêmicas; é falar da importância da participação desses intelectuais através dos seus papéis sociais de interesse e de visão de mundo da época e o que contribui para a formação histórica do Brasil.
A época histórica vivida por Euclides da Cunha foi de um Brasil em busca de transformações através da industrialização, da urbanização, das novas relações de trabalho, enfim, do que era considerada modernização. Afinal, foi um intelectual que acreditou na ciência e no projeto nacionalista de buscar uma identidade para o povo brasileiro, transformando a realidade do País com o progresso e da civilização. Euclides viveu muito pouco para concretizar seus sonhos e esperanças, pelo menos deixou como herança um livro fundamental para a compreensão da formação histórica e geográfica do País.

CURIOSIDADES DE UM PASSADO NÃO TÃO DISTANTES.
O próprio Euclides da Cunha, em 1897, durante a Guerra de Canudos, teria levado algumas notas sobre as terras do sertão baiano, na casa de Teodoro Sampaio. Um mapa de autoria de Teodoro, “Trecho da carta da Bahia”, então inédito, foi fornecido a Euclides da Cunha quando, em 1897, este escreveu o seu primeiro artigo (“A nossa Vendéia”) sobre a Guerra de Canudos. A autorização para que Euclides da Cunha fizesse a cópia do mapa foi dada com a condição de que ele não fosse divulgado, o que não se cumpriu, gerando a convocação de Teodoro para uma conferência com Campos Sales, governador de São Paulo. Por se tratar de mapa de uma região ainda pouco conhecida, onde o exército já sofrera sucessivas derrotas, o governador fez mais de uma cópia e as enviou para o Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro. (SAMPAIO, 2002).
Referências Bibliográficas

AVILA, Bastos de. Antropometria e Desenvolvimento Físico (métodos e pesquisas de antropologia física). RJ: Civilização Brasileira, 1940.
SANTOS, Ricardo Ventura. “Os Debates sobre Mestiçagem no Brasil no início do século XX”. Antropologia brasiliana: ciência e educação na obra de Edgar Roquette-Pinto / Nísia Trindade Lima e Dominichi Miranda de Sá, organizadoras – Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008.
RIBEIRO, Alcides. “A Geografia do Brasil de 1500 aos nossos dias”. Boletim Geográfico. Nº198 – ano 26 – maio/junho de 1967.



terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Trajetórias Intelectuais: o papel dos discursos geográficos acerca de uma inferioridade na República brasileira.

Entender o enredo que compõe as trajetórias intelectuais de pesquisadores brasileiros que com seus estudos e pesquisas biológicas, antropológicas e etnográficas constituíram um discurso geográfico no Brasil, em finais do século XIX e início o XX, é procurar compreender de uma construção de representações, prática e apropriação do espaço que influenciaram a divulgação científica.
Pensar os sujeitos e suas práticas nos espaços de sociabilidades da cidade é procurar problematizar as interferências e conexões existentes em relação à construção de um papel social (um projeto ideológico de autoridade das elites do país) da transformação do estigma cidade colonial em cidade moderna, uma cidade do progresso científico a forjar um novo homem e uma nova concepção de cidade.
A criação de instituições científicas expressou a valorização da ciência e do cientista como lugar de produção e divulgação de experiências científicas, para explicar a evolução do homem primitivo, sua morfologia e seus aspectos anatômicos em sintonia com o meio. Por isso, alguns intelectuais, cada um no seu tempo, vão sintetizar a construção de uma inspiração cientifica compromissada, respectivamente, em gerar um pensamento social brasileiro que descortina o debate em torno da raça, da miscigenação e da cultura como fatores de formação social de uma nação brasileira.
Neste aspecto, novas matrizes de idéias vindas da Europa começaram a impregnar a vida intelectual brasileira e constituiriam projeto que tinha por lógica viajar, pesquisar, classificar, organizar a sociedade entre os civilizados e os selvagens. Era uma ciência calcada na evidência empírica, na observação e nos experimentos que tentaram criar uma tipologia de enquadramento das raças ditas inferiores do Brasil com objetivos de transformar os indivíduos em cidadãos.
Isso nos leva a reafirmar que essas ideias se sustentaram fortemente e originaram uma geração de intelectuais que educaram o olhar para interpretar os trópicos, a cidade e seus habitantes. Através dessas práticas e os discursos não se limitaram somente à compreensão e interpretação do nativo, do selvagem, mas diante de um mundo dominado pelo progresso, serviu para construir um discurso nacionalista e eugenista que colaborava com um interesse de certas hegemonias de integração ao projeto de nacionalidade defendido por muitos intelectuais na época: solucionar o problema da identidade nacional incentivando o branqueamento da população brasileira. Por que eles achavam que isso iria dá certo?!